Xaral Soul Surfers

Friday, December 29, 2006

O Síndroma Português

Invariavelmente o dia começara cedo.
Não tão cedo como o desejado nem tão tarde que pudesse ser mais tarde lamentado. O campismo selvagem tem o condão de acordar todos quantos se entregam a esse modelo de férias com a diferença de poucos minutos. Perdoem-me a insistência na referência de "Selvagem" mas tenho para que mim o acto de montar tendas como obedecendo a um plano urbanístico, partilhar fogareiros com os vizinhos, e de pagar uma taxa para se dormir no chão tem um quê de foleiro. Já o campismo selvagem faz-me pensar que somos assim uma espécie de Soul Rebels...rebeldes sem causa. James Deans num carro a gás...uns John Rambos sem a metralhadora rotativa. Não se ria caro leitor, que eu próprio não me sinto longe de tal personagem. Não caço Javalis com paus afiados mas havia de me ver a abrir uma daquelas lata sem puxadores munido apenas de um canivete. E sem ser dos suíços.












Mas dizia eu. A hora do despertar rondava mais ou menos as dez horas da matina. Ao contrário das nossas experiências campistas anteriores em território nacional , aqui o sol ao invés de nos acordar de repente com uma bofetada de calor no trombil , tinha a amabilidade de vir devagarinho espreitando por detrás das nuvens. Tal e qual como dois namorados se acordam mútua e lentamente um ao outro depois de uma noite de amor.





















Era essa a nossa realidade...enamorados com o Sol de Hossegor. Não comprometidos. Nunca assinámos qualquer papel em que nos comprometíamos a amá-lo e respeitá-lo até ao fim das nossas férias. Muito menos acordos de comunhão de bens. Portanto , mal sentíssemos o "apelo" de uma qualquer outra "localidade" não precisaríamos sair de fininho com a desculpa de comprar tabaco ou de jurar que "não...não existia nenhuma outra vila na nossa vida". O Sol ficaria com as suas nuvens e nós com as nossas tendas. Isso no entanto era problema que não se punha no momento pois para além da beleza da vila, a falta de pudor na praia de nudistas em que assentávamos arraiais durante o dia continuava a agradar á comitiva Xaral Soul Surfers. Pena que quando na praia o ambiente não era o melhor as saídas de esgoto apresentavam-se ali...a céu aberto.

No entanto havia um elemento da trupe para o qual o ambiente parecia estar sempre à altura das suas exigências. A agulha da bússola de Johny BeGood parecia estar um pouco descontrolada e encontrava o norte em praticamente todas as direcções.













O crowd surfístico fazia-se sentir nesta praia ,Les Cull Nulls, com menor intensidade e ainda nos foram proporcionadas exibições de puro Surf por parte dos Irmãos BeGood´s. E digo puro porque é disso mesmo que se trata quando os dois livres de qualquer tipo de roupagem gozaram o seu desporto favorito. As reacções porém eram ambíguas. Se por um lado a sensação de liberdade era incrível...por outro lado...bem...por outro lado nada que meio tubo de Halibut não resolvesse em poucas horas.

Quando a maré não nos presenteava com ondas de qualidade proporcional ao elevado nível de surf que a comitiva apresentava, quando a fome apertava , ou quando os BeGood´s insistiam já não haver creme protector suficiente dado que Longborda insistia em preservar a palidez que herdara da sua linhagem de nobre, era então altura de visitar uma das duas galerias comerciais por nós eleita. O leitor provavelmente nunca terá ouvido falar de nenhuma delas, mas aqui deixo os seus nomes e o testemunho de serem casas de gourmet de qualidade superiora para assim contribuir para a sua cultura geral. Quando for abordado com a pergunta..."E Hossegor? Conhece?"...responda com um ..."Por quem me toma....o nutella da casa LeClerc é inesquecível.". Pode falar ainda dos patés do Intermarchet que será tido em boa conta.











































Já satisfeitos com a famosa "nouvelle cousine" (não imaginam a diferença do Nesquik de lá para o de cá) seguíamos invariavelmente para o centro da vila onde fazíamos jús ao adjectivo de portoghesi criado pelos italianos para definir uma pessoa que...bem....para definir um português. Assim sendo invadíamos as lojas Hossegorianas em busca de tudo o que pudesse dar uma foto para mais tarde recordar. E se era para recordar...cá vai...










































Aproveitávamos também recorrentemente para nos vingarmos do roubo claro de que foi vítima a selecção das quinas aquando do Mundial de 2004 . Somos demasiado patrióticos para deixar para trás um acerto de contas em nome de todos os portugueses e portuguesas e nunca tendo em mente o proveito próprio criámos um modelo de jogo em que chegámos a dar pazadas de 5-0 como se pode constatar na foto em baixo.










Normalmente despediamo-nos do Sol ao final do dia ainda dentro de água. Os últimos sets eram já iluminados pelo reflexo da lua. E esta pedia-nos repouso. Pedia-nos um reabastecer de energias proporcionado por um jantar rico em tudo que é vitamina cálcio e ferro, que nos reconfortasse e nos proporcionasse um ganho de energia que fosse para enfrentar o Sol que nos saudaria outra vez pela manhã. Pedia...pedia...mas nós que somos muito machos mandavamo-la ir dar uma volta ao..ao...ao planeta terra! Era hora da banhoca no chuveiro da praia já a tremer de frio, de vestir os jeans...de calçar a sapatilha que teimava em aromatizar o cheiro do nosso Audié. Era também a hora da pizza. E toda a gente sabe que ninguém faz pizzas como os...holandeses. Rumávamos então até á tal roulotte holandesa que confeccionava as melhores pizzas italianas que aquela vila francesa já havia provado. Vive L' Europe!

Depois era rumar até ao sítio onde tudo acontecia assim que a lua ia já bem alto. E de tudo aconteceu...

Alguns pack´s de cerveja mais tarde concordámos que era bem empregue o montante mais ou menos obsceno que nos pediam à porta da discoteca local. Havíamos chegado a essa mesma conclusão no dia anterior e no seguinte não foi diferente. À medida que se esvaziava a caneca da imperial , miúdas que antes passavam imunes ao nosso radar faziam agora soar o alarme na torre de controlo. Um homem com 2 a 3 litro de cerveja no estômago sente-se tudo menos ignorado. Se se sente observado é claramente pelo seu charme contagiante (e nunca pelo fino bigode que a espuma da cerveja desenhou), se pelo contrário não sente em si olhos postos será certamente por uma de duas razões. "Ou a gaja se tá a fazer difícil...ou é tímida!"
Já no interior da discoteca o volume elevado com que o Dj passava o som electrónico, parecia marcar o compasso de tudo o que era bunda por ali. Mas tudo o que era bunda por ali naquela noite resumia-se a dois ou três pares de nádegas flácidas cujo pouco interesse suscitava à comitiva. Depois de abordar uma barmaid lá percebi qie era mais tarde que a coisa aquecia.
Entre gin´s e vodkas comentavam-se as proezas do dia. No entusiasmo dos relatos dos tubos que uns juravam ter feito e que outros juravam não ter visto nem reparávamos que á nossa volta o espaço nocturno fazia agora jus á sua fama e as "ladies" começava a preencher agora o recinto. No meio de uma já eufórica casa , Longborda (ás vezes gosto de falar na terceira pessoa...manias do juga da bola que tenho dentro de mim) lançara-se á pista enquanto Johny BeGood e Roy Mckee trocavam galhardetes com umas senhoras que por ali paravam. E digo Senhoras pois ensinaram-me a ter respeitinho pelos mais velhos.













Quando vieram a si já andava Longborda no meio da pista a conduzir uma francesa. Dizem que se aprendeu na integra uma língua quando os pensamentos fluem já nesse idioma. Pois na cabeça de Longborda "Cést pas possible" era a única frase que fazia sentido. No meio das loucuras que cometia nos braços de Longborda aquela Loura ia-lhe segredando ao ouvido promessas que envolviam as tendas na areia ali bem perto.

Tenho por certo que existem na verdade as ditas almas gémeas. Mas penso que um ser humano com sorte encontra no máximo uma...vá duas que façam jus a esses estatuto. Não é fácil. Ora aquela voluptuosa criatura cometeu a peripécia de encontrar as suas duas nem com uma meia hora de diferença. É a única explicação que encontro...
Longborda Luigi , qual macho latino, deixou a sua presa mais que certa abandonada no meio do couto ciente de que esta já de asa ferida não poderia ir longe. Vítima depois do apelidado "Síndroma do Português que julga que é ZéZé" juntou-se aos seus amigos de copo na mão à espera dos mais que certos incentivos e elogios à sua capacidade de ataque.
À pergunta -"Quem é o maior?" , a resposta surgia em uníssono. -"Longborda!!!"
Ora não é que ainda este não se preparava para o Xeque-à-Rainha , aparece um qualquer Franciú que resgata a Loura do meio da pista e literalmente desfere um mortífero Xeque-Mate que retira imediatamente Longborda do jogo. Poucos minutos depois já o casal subia a escadaria que daria acesso à praia. A pergunta -"Quem é o maior?" deixava de fazer sentido e a comitiva reconfortava Longborda com as previsões para o surf do dia seguinte. Longborda deu a volta em três minutos. Não era uma Loura que se ia meter entre si e os seus comparsas. Se ainda fosse uma morena... Uma Loura nunca! Imaginou o tal franciú a acordar no dia seguinte numa banheira cheia de gelo e sorriu. Positivo que era por natureza ainda pensou...-"do que eu me safei!". Foi só encostar a cabeça na almofada que, e com a ajuda do rítmico ressonar de Roy, repensou a questão. -"Naaa....a volta era um homem...". E adormeceu.