Xaral Soul Surfers

Wednesday, October 11, 2006

Bonjour Hossegor

Estou deitado. Pelo toque adivinho serem de seda pura os lençóis que nos cobrem os corpos desnudados. De seda pura é também, decerto, esta pele branca. Imaculada.
Ao meu lado,deitada, desperta agora de um sono profundo.




















Acorda e abre os olhos que buscam a minha face. Ao encontrá-la sorri. E esse sorriso diz-me precisamente o que quero ouvir. Precisamente aquilo que qualquer homem deseja ouvir desta mulher. Deste hino á perfeição. Não "ouço",adivinho...
Estou ainda meio em transe quando batem á porta e para lá desvio o meu olhar...

-"Petit Dejeneur monsieur..."

Ah...acordou antes de mim e fez-me uma surpresa. Como eu adoro surpresas...

É quando me viro para a agarrar e a encher de beijos que me deparo com o facto de ela ter cortado o cabelo, ter barba e emanar um terrível cheiro denominado no mundo olfactivo como "chulé"! Uuuuuoooouuu!!!

LBL -"Hã?!? Epá... Uuuouu....Roy????????????? Tu aqui??????????? Onde é que ela está???? Onde??? QU´É ESTA MERDA???"

Roy -" Mmmmmmm...hã?"-balbuciava roy enquanto tentava desenrolar a língua que parecia atada com três nós cegos.

Ouço de novo...

"Petit Dejeneur monsieur" ..."Peting Dejeterdite monsiuer"...

LBL- "Hã?, Peting Dejerterdit?"- penso com os meus botões enquanto olho para a porta do quarto e presencio a sua transformação num fecho "eclair" mesmo diante dos meus olhos.

Batem à por...Abanam a por...Abanam a tenda e ouço já vou ouvindo melhor....

"Camping Interdite Monsiuer...Bonjour Camping Interdit.."

Encolho os ombros e enfrento a situação. É capaz de isto ser verdade. Talvez "ela" nunca tenha existido. É capaz...mas não é certo. É capaz...
Mas vamos por partes. Parece que tenho um francês maluco a abanar-me a tenda. E parece também que o meu companheiro Roy lá conseguiu com a sua destreza de mãos desenrolar dois dos nós que lhe dificultavam a expressão dos seus sentimentos matinais.

Zzzziiiiipppp...

"-Bonjour monsieur..." - Ao abrir a tenda deparo-me com um casal que pelo traje que envergam facilmente se adivinha serem polícias. O " Police Municipel" que proferem a seguir não deixa margem para dúvidas. Depois de nos explicarem que o campismo selvagem era naquelas paragens interdito (coisa que fingimos desconhecer por completo), deram-nos dez minutos para desmontar-mos o "acampamento" e seguirmos viagem. Evidentemente, que com o nosso respeitinho pela autoridade fomos o mais rápidos possíveis nesta tarefa...

Foi só comer qualquer coisita...




































....coçar um pouco a micose...



























...e descansar um bocado para não arrancar assim de repente.













Seguia-se a preparação da carroça. Caro leitor, se seguiu passo a passo esta aventura e ainda não se apercebeu da complexidade desta tarefa é porque ainda não parou para pensar.
Não assimile só a informação, processe-a. Visualize...
Ora portantos, a "carroça" conta neste momento com:

Seis pranchas e duas tendas...

...dois "manos"...















...
dois "putos"...















...e um "cadáver"!!














Acrescente-lhe a bagagem de cada um, os 87 enlatados que André Iran não consentiu que ficassem em terra e ainda uma quantidade enorme de tralha que se encaixava milimetricamente, quais peças de um tetris, nos espaços a que pertenciam. Posso ainda confessar-lhe o meu espanto quando na primeira desmontagem da viagem me apercebi que Johny Begood tinha levado nada mais nada menos que um par de tochas em bambu para, e nas palavras do próprio..."dar um toque mais acolhedor". É realmente de um homem sensível preocupar-se com aprimorar o "ambiente" numa viagem em que o pequeno almoço era invariavelmente duas latinhas de atum Ramirez com grão e cebola logo pela manhã.

Visualize e faça comigo este exercício. Pense em cinco grandes amigos seus, daqueles com quem pode ferver em pouca água. Daqueles a quem pode, sem o mínimo de arrependimento posterior, mandar para o "c@r@(h0" só por dá cá aquela palha... Agora imagine-se em frente a esta viatura a repetir o processo descrito acima no mínimo 4 a 5 vezes ao dia.

Aperta pranchas, aperta tendas, bagagem, colchões, sacos cama, cadeiras,estojos, estojinhos, estojões, saco disto, saco daquilo....etc, etc, etc.

Admita que a meio do segundo dia, as ofensas pessoais seriam uma constante e proferidas numa linguagem que de tão obscena que poria a corar de vergonha um qualquer Fernando Rocha.

Ora acontece que não é à toa que estas cinco personagens foram escolhidas para integrar o grupo base dos "Xaral Soul Surfers"... Na verdade o que se passava era que chegada a hora do trabalho:

1-Roy Mckee, constantemente sobre o efeito de....hmmm...digamos...calmantes...encostava-se a um canto e invariavelmente acendia o seu cigarro. Há quem aprecie muito o cigarro depois do café...outros desfrutam-no antes de jantar. Roy Mckee, de gostos singulares, apreciava-o na hora do expediente.

2-Johny Begood
, fruto do mero acaso, tinha sempre um sms importantissimo para enviar nessa altura, um assunto imperativo para resolver ao telefone...ou uma qualquer micose que necessitava urgentemente de uma coçadela dedicada.

3
-Ao que o resto da pandilha chamava de "não fazer ponta de um corno" Long Borda Luigi chamava coordenar. Fazer Roy Mckee admitir que ainda não tinha mexido uma palha era também tarefa sua. Ao que Roy muitas vezes em avançado estado de letargia, respondia afirmativamente com uma expressão que se pudesse ser traduzida por palavras não andaria longe do vulgar "vai-te cansando" ...ou quem sabe do mais rebuscado "tá bem abelha"!

4-André Iran
devido á sua proximidade com as mesmas, ocupava-se invariavelmente com o processo das pranchas e tendas. A este era Johny Beggod que tinha a tarefa de convencer que também ele não tinha até então, feito "ponta de corno". -" Não fazes nada calão!!! Um dia vais acordar, levantas-te, olhas-te ao espelho e dizes para ti próprio. -"Sou um cagalhão"". O seu a seu dono, Iran cumpriu escrupulosamente a tarefa.

5-Michael Begood
leva a Medalha de Honra da Ordem de Ochiluppo por serviços prestados á comitiva Xaral Soul Surfers. Devemos decerto a este jovem, o facto de a unidade do grupo não ter sido ferida de morte. Haveriam provavelmente feridos e mortos caso Michael não se prestasse a muitas vezes perante a inércia dos outros, a concluir "a tarefa". Feridos e mortos talvez seja exagero.Mas calduços e belinhas haveriam com certeza...

Era o primeiro dia em Hossegor, vila esta que viria a tornar-se o ponto de referência desta nossa viagem. Depois de checado centro da vila onde abundavam as surf-shops das mais conhecidas marcas da indústria do surf seguiu-se a procura de um qualquer beach break que tivesse qualquer semelhança, por mínima que fosse, com as imagens que nos inundavam a alma. Hossegor é palco de alguns dos mais importantes campeonatos mundiais e qualquer surfista que se preze sabe que é lá que residem provavelmente alguns dos melhor "fundos de areia" do mundo. O que provavelmente muitos não saberão é que são nesses mesmos fundos de areia solta que se solidificam algumas das melhores amizades do...universo.

Pelo menos do meu...